segunda-feira, 23 de junho de 2025

A obstipação para além da prisão de ventre

 Uma das queixas mais referidas e que motivam procura de apoio médico é a obstipação, também conhecida como prisão de ventre.

Geralmente, quando tal é necessário, a investigação deste sintoma resume-se a uma colonoscopia que, se não mostrar alterações, remete a explicação da obstipação para um atraso de funcionamento do intestino.

O doente é então aconselhado a uma dieta adequada rica em fibras, ingestão de água,  sendo muitas vezes prescritos laxantes ou medicamentos que estimulam o funcionamento do intestino.

Tudo isto está correto nos casos em que a obstipação se deve pura e simplesmente a alterações do funcionamento do colon.

É preciso, no entanto, ter em mente que em mais de cinquenta por cento dos casos os doentes rotulados de obstipação, principalmente os do sexo feminino, diagnosticados com obstipação, os sintomas podem ser causados por alterações no mecanismo de defecação, devido a um incorreto funcionamento dos músculos pélvicos responsáveis pela expulsão das fezes para o exterior.

O pavimento pélvico é o conjunto de estruturas musculares que suporta os orgãos situados na pelvis, sendo que é de importância fundamental  para funções como a micção e a defecação.

As alterações da estrutura e funcão dos orgãos pélvicos e dos músculos que os suportam podem causar um quadro clínico que, se não for devidamente estudado e esclarecido, é erradamente tratado como uma "prisão de ventre", quando não verdade o que existe é uma dificuldade na expulsão das fezes, a que se dá o nome de obstrução defecatória de saída.

Os doentes afetados passam longos tempos na casa de banho e muitas vezes sentem a sensação de que nunca conseguem defecar completamente.

Podem também desenvolver quadros clínicos de dor anal e por espasmo muscular associado muitas vezes ao aparecimento de fissura anal.

Esta condição clínica pode ser causada por alterações estruturais dos orgãos pélvicos, como os prolapsos, ou apenas por défice no funcionamento dos músculos responsáveis pela manobra da defecação.

Na mulher, as causas são muitas vezes associadas a antecedentes de gravidez e parto.

Menos frequentes no homem, este quadro também afeta doentes do sexo masculino com antecedentes de cirurgias anteriores especialmente para o tratamento de doenças da próstata.

Para além de um interrogatório adequado e um exame físico completo, os doentes deverão ser estudados  através de exames específicos que visam o estudo anatómico e funcional da pélvis.

Neste conjunto de exames, além da colonoscopia, deverá ser também ser efetuado, se se justificar, um estudo do esvaziamento do cólon, para identificar ou excluir alterações da função do intestino grosso já que, por vezes, esta situação coexiste com a disfunção defecatória.

A ressonância magnética com defecografia é um exame fundamental e que consiste na visualização dos orgãos pélvicos de forma dinâmica através de um "video" que reproduz  os movimentos pélvicos solicitando para simular uma defecação.

É ainda importante, em muitos casos, a execução de uma manometria que tem como objetivo medir, de uma forma pouco invasiva, as pressões do recto e do ânus.

O tratamento destas alterações, para além de medidas gerais com especial atenção para uma dieta eficaz,  passa muitas vezes pela fisioterapia para reeducação do pavimento pélvico.

Esta abordagem altamente especializada é, em muitos casos, suficiente para o tratamento das alterações funcionais e muito eficaz no desaparecimento dos sintomas.

Em muitos doentes coexiste um quadro de ansiedade que exige uma abordagem pelo psicólogo ou psiquiatra.

A coexistência de alterações urinárias e ginecológicas, implica em muitos casos a colaboração de valências como a urologia e a ginecologia. 

Quando há alterações que o justifiquem, pode ser necessário o tratamento cirúrgico.

Como mensagem final, sublinho que a obstipação e o seu tratamento não deverão ser menosprezados, sendo muitas vezes necessária uma abordagem multidisciplinar.

Desde 2022 que integro e coordeno uma equipa capaz de oferecer aos doentes a possibilidade de um diagnóstico correto e um tratamento adequado.

Para mais informações pode consultar a minha página: https://www.eduardoxaviercirurgia.pt/



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terça-feira, 17 de junho de 2025

Incontinência fecal

Em condições normais, o processo de defecação e de continência anal é assegurado em boa parte por músculos situados no anus, denominados esfíncteres.

As lesões ou o mau funcionamento desses músculos pode dar lugar à impossibilidade de reter gases, fezes ou ambos.

A incontinência fecal é, sem dúvida, um dos maiores dramas no espectro das alterações da defecação.

Manifesta-se pela perda involuntária de fezes que pode dar-se a partir de esforços ou como uma urgência que obriga a uma rápida ida à casa de banho ou passivamente sem que haja a perceção da saída de fezes através do anus.

A gravidade desta condição estende-se da perda apenas de gases ou de fezes quando estas estão mais líquidas, até à perda involuntária e passiva de fezes mesmo duras.

Causas:

  • Lesões nos músculos do anus, geralmente causadas por cirurgias ou durante o parto, ou na medula e nervos que enervam os esfíncteres.
  • Prolapso rectal e de orgãos pélvicos
  • Doenças, tais como a diabetes ou a esclerose múltipla, que afetando os nervos conduzem a défice de função dos esfíncteres.
  • Doenças que causam diarreia ou fatores dietéticos podem também contribuir para o agravamento dos sintomas de incontinência.

Diagnóstico:

Esta é uma condição clínica que por vergonha ou constrangimento é escondida até que haja, por parte de quem dela sofre, o desespero suficiente para procura de ajuda.

Uma vez reconhecida, a incontinência deverá ser objeto de uma cuidadosa avaliação médica e execução de exames que permitem por um lado estabelecer as causas e por outro escolher a melhor estratégia de tratamento.

Entre esses exames contam-se os estudos por imagem como ecografia e a ressonância magnética ou as avaliações funcionais como a manometria, que determina o padrão de funcionamento dos músculos, ou mais raramente o eletromiograma para avaliar a atividade dos nervos.

Tratamento:

Para além das medidas gerais nas quais se incluem o suporte psicológico, a dieta e a tentativa de controle com medicamentos obstipantes, existem medidas específicas que importa salientar.

Quase todos os doentes, nalgum momento  do tratamento, deverão ser avaliados e tratados por terapeutas especializados nas disfunções defecatórias e do pavimento pélvico.

Hoje em dia há vários tipos de procedimentos cirúrgicos para tratamento da incontinência fecal:

A cirurgia tendo em vista a correção das alterações anatómicas reconhecidas como causa da incontinência:

Tratamento do prolapso rectal caso ele exista. 

Reconstrução de músculos danificados, cujo êxito se situa em cerca de 50% dos casos

Implantes de silicone nos esfíncteres, utilizados em casos muito concretos e que exigem uma técnica que requere muito treino.

A neuromodulação sagrada, cada vez mais, constitui uma indicação para o tratamento da incontinência. 

Esta opção de tratamento consiste na estimulação dos nervos responsáveis pelo funcinamento dos esfíncteres, através de um eletrodo ligado a um gerador implantado debaixo da pele tal como um pacemaker.

É uma técnica que também é utilizada nas alterações de funcionamento da bexiga e que cada vez mais é reconhecida como uma solução com taxas de sucesso muito prometedoras.

No entanto, para tratar é necessário reconhecer a doença e para isso é essencial que os doentes se libertem do inferno do sofrimento em segredo e procurem apoio.

Um importante apoio ao doente incontinente é dado em Portugal pela Associação portuguesa para a disfunção pélvica e Incontinência, APDPI,  https://www.instagram.com/apdpi_oficial/, cuja a atividade tem sido fundamental no suporte aos doentes incontinentes, promovendo a divulgação e a desmistificação da doença.

Tenho dedicado muita da minha atividade clínica às doenças do pavimento pélvico entre elas a incontinência.

Quero que saibam que, como sempre, estou aqui.

Para mais informações pode consultar a minha página: https://www.eduardoxaviercirurgia.pt/








TRATAMENTO CIRÚRGICO MINI-INVASIVO DO SINUS PILONIDAL: NOVA ABORDAGEM PARA UM VELHO PROBLEMA.
Como sabemos, o sinus pilonidal, também conhecido, (embora erradamente), como quisto dermoide, é uma doença muito frequente principalmente nas idades mais jovens.
Embora geralmente não se possa considerar grave, afeta muitas vezes a actividade normal do dia a dia podendo complicar-se por infeções de carácter agudo ou crónico.
Para além da simples drenagem quando complicado de abcesso, o tratamento definitivo passa pela cirurgia para a sua remoção completa.
Figura 1
Existem várias técnicas cirúrgicas clássicas para o tratamento desta doença, (fig. 1),  sendo que todas elas tem em comum um pós operatório muito doloroso, uma convalescença demorada e a necessidade por um período mais ou menos demorado, de tratamentos locais, (pensos), geralmente muito penosos para o doente. Nalguns casos, a cicatrização completa pode demorar várias semanas ou até vários meses.
Para além de tudo isto, existe ainda possibilidade de recidiva, implicando novo procedimento cirúrgico e mais um ciclo de sofrimento.
Estas perspectivas levam frequentemente à recusa do tratamento cirúrgico por parte de muitos doentes implicando que, muitos deles, durante anos, no seu quotidiano sejam obrigatórios cuidados especiais de higiene e de desinfeção.
Figura 2
No entanto, felizmente, novas abordagens cirúrgicas possibilitam já uma mudança radical deste panorama.
Embora ainda não muito divulgada, a técnica de remoção do sinus pilonidal com o auxílio a videoscopia e energia laser, possibilitam um pós operatório quase isento de dor e a possibilidade de uma recuperação rápida e cómoda.
As complicações desta cirurgia são raras e sem gravidade.
O grau de eficácia é de cerca de 85% e em caso de insucesso ou recidiva, este procedimento pode ser repetido.

Figura 3
A operação, que pode ser efectuada em regime ambulatório, começa pela introdução, através de um pequeno orifício, de uma pequena ótica ligada a uma câmara de video,  (Fig. 2).
Segue-se a aplicação de laser através da introdução de uma fibra através do mesmo orifício, (Fig. 3).
A recuperação dá-se em poucos dias e os cuidados podem ser feitos pelo próprio doente.
Dado em Portugal não ser prática corrente, estou orgulhoso por ser um dos poucos cirurgiões a praticar esta técnica e a possibilitar que os meus doentes possam beneficiar das  largas vantagens desta nova forma de tratar esta doença.
Este avanço torna assim desnecessário e fazendo pertencer ao passado o sofrimento causado pelo tratamento tradicional.
Para mais informações, convido-vos a visitar a minha página:
https://www.eduardoxaviercirurgia.pt/










domingo, 15 de junho de 2025

HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL

As hérnias são das causas mais frequentes que motivam uma ida ao cirurgião.
Se o termo "hérnia" é conhecido praticamente por toda a gente, não serão todos os que realmente sabem realmente do que se trata.
Vou tentar dar-vos uma explicação simples e clara:
Imaginem um cartão ou uma tela em que contra uma das suas superfícies se enche um balão.
Se nessa tela se abrir um orifício com um tamanho considerável, a pressão que o balão exerce, faz com que parte dele saia através desse orifício, sendo essa protusão mais ou menos volumosa conforme o ar que se insufla no balão.
Basicamente é isso que acontece no nosso organismo quando surge uma hérnia.
Na parede abdominal existe uma "tela" de suporte  que se chama aponevrose.
Desde o nascimento e ao longo da vida que alguns pontos fracos dessa estrutura podem dar origem a orifícios por onde faz  protusão o "balão", que em vez de ar contém as vísceras do abdómen.
Um dos exemplos mais frequentes desses pontos fracos é o umbigo onde podem desenvolver-se as chamadas hérnias umbilicais, que muitas vezes são evidentes nas crianças.
Assim poderemos, com alguma facilidade, deduzir que o aparecimento das hérnias depende basicamente de dois factores: fragilidade da parede e aumento de pressão dentro do abdómen.
A fragilidade da parede pode ser devida a menor resistência dos tecidos que a compõem, mas também poderá resultar de cicatrizes adquiridas em cirurgias anteriores.
A maior pressão dentro do abdómen pode ser causada por inúmeros factores, tais como os grandes esforços, o aumento de gordura, a gravidez, e ainda doenças diversas que originam uma quantidade anormal de gás ou líquido intra abdominal
Para além da região umbilical, os locais onde mais frequentemente se observam hérnias abdominais são as regiões inguinais, (virilhas), e a linha média acima do umbigo que se chama linha branca.  As que resultam de incisões de operações anteriores denominam-se  incisionais.
As hérnias traduzem-se por abaulamentos bem circunscritos, de consistência geralmente mais mole que a parede abdominal, que aumentam com a posição de pé e com as manobras que aumentam a pressão dentro do abdómen, tal como a tosse ou as flexões. Reduzem ou desaparecem muitas vezes com a posição deitado ou exercendo pressão suave sobre ela.
Para além do aumento de volume gradual, com todo o incómodo daí resultante, as hérnias complicam-se com alguma frequência por aquilo que se conhece como estrangulamento e que consiste na impossibilidade de a hérnia se reduzir, podendo em casos mais graves provocar a gangrena dos orgãos que constituem o seu conteúdo e implicar a necessidade uma cirurgia urgente.
Para um correcto diagnóstico, sempre que se suspeita da existência de uma hérnia, deverá ser um médico a fazê-lo não só para determinar a certeza da sua existência mas também  porque poderá ser a expressão clínica de um problema mais grave.
O tratamento das hérnias passa sempre pela cirurgia.
É completamente errada a utilização de cintas e dispositivos que se aplicam contra o orifício herniário conhecidos por "fundas" no intuito de evitar o tratamento cirúrgico.
A cirurgia das hérnias tem vindo a ser cada vez menos traumática.
A abordagem minimamente invasiva é cada vez mais utilizada.
A laparoscopia e a cirurgia robótica são cada vez mais utilizadas para tratamento das hérnias, reduzindo significativamente a dor pós operatória, permitindo igualmente uma rápida recuperação.
Atualmente, sempre que possível, proponho aos meus doentes o tratamento menos invasivo.
Para mais informações, convido-vos a visitar a minha página:
https://www.eduardoxaviercirurgia.pt/